quarta-feira, 3 de junho de 2009

A Arca de Noé

Uma explicação.

Aqui vão notas sobre impressões diversas, frases soltas, ideias, pensamentos sobre qualquer coisa, ou sobre tudo ou nada. Algumas minhas estão incluídas, e não são melhores nem piores, nem profundas nem rasas, são apenas minhas mas, de qualquer das maneiras, foram criadas em parceria, surgiram de provocações de leituras, do moer e remoer do cérebro...sei lá do que. São animais estranhos algumas mas vão todas, indistintamente, para A Arca de Noé. Não preciso dizer que ao longo do tempo acréscimos serão feitos



Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha auto-biografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas confissões e, se nelas nada digo, é que nada tenho a dizer.
-Fernando Pessoa
Livro do Desassossego, Trecho 12


Não é desejável acreditar em uma proposição quando não existe qualquer fundamento para supo-la verdadeira.
-Bertrand Russell
Sceptical Essays

Os Sísifos não fazem seu trabalho porque querem, mas porque estão condenados a isso.
-Frank
A Vinha de Nabot
I 252:392

A autobiografia de um poeta é sua poesia. O resto não passa de nota de rodapé.
-Ievgueni Ievtuchenko

O Português falado no Brasil está para o Português padrão de Portugal como o Grego Koinè, no Império Romano, estava para o Grego da Hellas falado pelas pessoas cultas.
(Sugerido por Luciana Stegagno-Picchio em História da Literatura Brasileira)

Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo, e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar, deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me, e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação da vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho forças para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha covardia.
-Fernando Pessoa
Livro do Desassossego, Trecho 152

É preciso esquecer, e cada um tem o seu ópio.
-Frank
A Vinha de Nabot
I238:367

É sempre bom, em tudo o que se diz, deixar a porta aberta para uma retirada estratégica.
-Frank
A Vinha de Nabot
I273:438

Alucinação é percepção sem objecto; delírio é o acreditar nessa percepção. Se essa definição for verdadeira, muito do que se passa na mente religiosa, especialmente nos seus estados de exaltação, é alucinação e delírio.
-Frank
Os Ovos da Perdiz

If arrogant dogmatism is an evil in religion, it is also an evil in the absence of religion.
-Frank
The Solitary Runner
209:0391

Palavra de Deus, para mim, nada mais é do que a expressão e o produto da fraqueza humana.
-Albert Einstein
Carta a Eric Gutkind, 1954

De cem coelhos nunca se faz um cavalo; de cem suspeitas, nunca se faz uma prova.
-Porfiri Pietrovitch a Raskolnikov
in Crime e Castigo, de Dostoievski
Parte VI Cap. II.

Toda gente se arranja como pode, e de todos, aquele que melhor vive, é o que melhor sabe iludir-se a si próprio.
-Svidrigailov a Raskolnikov
in Crime e Castigo, de Dostoievski
Parte VI Cap. IV.

O homem que cuida mal, ou descuida, da mulher que lhe dá prazer, não é mau nem egoísta; é apenas estúpido. O que faz o contrário nem é altruísta nem santo; é apenas um homem prático e de bom senso.
-Cap. Mohamed Fatmi.

Avaliar mal os comportamentos das pessoas que nos rodeiam pode ter consequências bastante desagradáveis.
-Frank
A Vinha de Nabot, pág. 27.

Eu hei sempre de sentir, como os grandes malditos, que mais vale pensar que viver.
-Fernando Pessoa
Livro do desassossego, Trecho 201

Ser realista é apenas ter a medida precisa das coisas. Mais nada.
-Frank
04 Março 2009

...Não acredito nisso mais do que acredito que Deus me deu unhas para que pudesse me coçar, ou me fez nariz e orelhas na posição em que estão para que aí pudesse escachar os meus óculos.
-Frank
24 Março 2006

O conceito de eternidade como ausência de tempo (timelessness) é filosófico, não é bíblico. A Bíblia nunca se refere à eternidade como a-temporalidade. Todas as referências acerca da eternidade de Deus na Bíblia estão enxertadas (grafted) numa linguagem inconfundivelmente temporal.
-Frank
Nota solta sem data.

Dialéctica, na sua acepção heurística, é a argumentação combativa, que parte das premissas do próprio adversário, e dela extrai conclusões insustentáveis.
-Frank
24 Maio 2007

A música é o exercício de aritmética oculto do espírito que não sabe calcular, diz Leibniz. Porquê? Porque e música como tal só existe em nossos nervos (diz Nietzsche) e em nosso cérebro. Fora de nós ou em si mesma (...) compõe-se somente de relações numéricas quanto ao ritmo, se se trata de sua quantidade, e de tonalidades, se se trata da sua qualidade, conforme se considere o elemento harmónico ou o elemento rítmico.
Friedrich Nietzsche
O Nascimento da Filosofia na Época Trágica dos Gregos
pág.141-144

Só tenho pena de grandes homens que sofrem, mas um grande homem que sofre ficaria ofendido se soubesse que eu tinha pena dele. Não tenho pena de homens mesquinhos e estúpidos que se lixam na vida por causa da sua estupidez. Não tenho pena de perdedores. Nem mesmo de mim, quando perco.
-Frank
A Vinha de Nabot pág. 538

São os homens "práticos" que trombeteam contra os idealistas, mas os homens práticos, pura e simplesmente práticos, são umas bestas. E falta-lhes um ingrediente fundamental num homem verdadeiramente inteligente: sofisticação mental. Homens práticos são excessivamente lineares e previsíveis, e eu não gosto de gente que não me surpreende.
-Frank
A Vinha de Nabot, pág. 575

sábado, 3 de novembro de 2007

O Último Inverno...

Finalmente, este terceiro caderno do Diário begins to spread its wings. Depois de dois meses parado o recomeço é lento, os movimentos são perros, como os de um urso que hibernou longos dias, e finalmente viu o sol voltar depois do frio e da neve. Aos poucos o corpo vai aquecendo, os movimentos vão se tornando mais firmes e mais rápidos, a vida vai retornando aos músculos, os sentidos vão despertando. Não sei quando haverá inverno outra vez, menos ainda quando será o último inverno do qual não mais retornarei.

Enquanto esse inverno definitivo de hibernação eterna não chega, é preciso aproveitar cada momento, e qualquer momento também pode ser interrompido a qualquer segundo. Isso me leva a repensar o que tenho pensado muitas vezes: no livro que sempre desejei escrever. Vários foram projectados, rascunhados, um foi inteiramente digitado mas não estava suficientemente bom...mas nada veio à luz do dia, nada foi entregue a público, muito porque ficou engavetado, muito porque foi simplesmente "exterminado." Há momentos em que me sinto como um viajante que tem sua partida permanentemente adiada, ou como um outro que consegue largar do porto mas, por uma razão qualquer, tem sempre que voltar ao cais.

Mas estava a tentar ver este eterno adiar duma outra perspectiva - porque é sempre preciso ver as mesmas velhas coisas de perspectivas novas, porque são as novas perspectivas que dão nova vida às coisas velhas - e ocorreu-me que o livro que tanto desejo escrever, se calhar, já está a ser escrito: este Diário é o livro. Estou a escrever esse livro todos os dias, talvez sem me dar conta disso. E, como não me dou conta de que o que quero está aqui bem debaixo dos meus olhos, ando a procurar por outros lugares.

Quem me garante que, dentro de alguns anos, este Diário não será descoberto, editado, e publicado? Quantos Diários não foram escritos com as mesmas disposições com que escrevo este e se tornaram, sem que seus autores tivessem a intenção de que assim fosse, obras de literatura em seus diversos ramos? Ainda há meses estava a ler o Diário de Jean-Paul Sartre. Era o "Diário de Uma Guerra Estranha", de cuja forma e conteúdo este não difere muito (apesar de ser este muito mais modesto). O Diário de Sartre tornou-se parte integrante da sua produção literária. De facto, dados fundamentais da sua filosofia, tratados primeiramente em forma de monólogo - a conversa de mim comigo mesmo de que falava o Nietzsche - estão no seu Diário, foi nele que ele os concebeu. Por outro lado, Sartre menciona no dele vários outros Diários famosos, dos quais ele se serviu para comentar vários assuntos: os Diários de Stendhal, Renard, Gongourt, Gide, Girardoux, Chamson.

Depois da minha morte? Depois que chegar o inverno definitivo de hibernação eterna? E por que não? Lembro-me agora de que practicamente toda a obra do meu querido Fernando Pessoa foi publicada depois da sua morte, depois da noite em que ele, numa cama de hospital de Lisboa, escreveu num papelito "I don't know what tomorrow will bring", po-lo na mesinha de cabeceira, pegou no sono e nunca mais acordou.

Practicamente tudo de bom e belo, do mais belo e do melhor que ele escreveu, ficou anónimo, na gaveta, na obscuridade, verdadeiros girassóis na sombra. Durante a sua vida quase nada foi dado a conhecer. e foi assim durante anos. Depois da sua morte descobriram o seu famoso "espólio", com uma obra riquíssima, extraordinária, contendo inclusivè o - na minha opinião - seu livro mais famoso, o "Livro do Desassossego", uma obra de génio, porque foi um génio que a escreveu: um autêntico "Assim Falava Zaratustra" em língua portuguesa.

Quem me garante que a mesma coisa não poderá acontecer comigo? Ninguém me garante, claro; nem eu mesmo garanto. Mas uma coisa eu posso garantir: é que posso tentar fazer com que aconteça.

Estou sempre a conversar com R. sobre isso, sobre esse livro que quero escrever. Ela me incentiva e encoraja, a única pessoa próxima de mim que alguma vez fez isso. Há um rascunho pronto de um, estou a pensar em um segundo, mas ambos não me livram da sensação de viagem adiada. Só este Diário me deixa, me confere a impressão de que alguma coisa está feita, hoje, aqui e agora. É um projecto sempre actual, sempre acabado.

É continuar com ele, com constância e firmeza. Ele é o celeiro que pode alimentar todos os outros planos, o banco de dados, o terreno das mudas, o seu canteiro, e ainda que eu não venha a ter tempo de transplantar estas mudas para um lugar definitivo, elas cá estarão. Alguém as poderá transplantar por mim.

"Não sei o que o amanhã me trará", disse o Fernando Pessoa na noite em que morreu. Digo a mesma coisa agora mas espero, apenas espero, que o meu último amanhã venha depois de muitas noite.

E depois de dizer tudo isto sinto que aos poucos o corpo vai aquecendo, os movimentos vão ficando mais firmes e mais rápidos, a vida vai retornando aos músculos, os sentidos vão despertando. É como disse o João Cabral de Mello Neto:

pois sinto que melhor vejo
que levo lentes na vista
se isto tudo antes mil-ví
as coisas estão mais nítidas.

Ou, ainda:

sinto na sola dos pés
que as pedras estão mais vivas
que as piso como descalço
sinto as arestas e a fibra.

Acho que é isso o que ele diz porque estou a citar os versos de memória.

Sinto tudo, até que chegue o último inverno e a última hibernação.

Frank

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Evolução em Crise.

Com a finalidade de trocar ideias com um amigo acerca de questões relativas à Evolução vs Criacionismo, fiz uma pesquisa rápida sobre o Dr. Michael Denton, um dos cientistas em evidência no momento. Há muita coisa sobre ele, como há muita coisa acerca de muitos outros, mas de tudo o que pude ver, duas coisas me chamaram a atenção: dois livros dele publicados há não muito tempo.



Não lí os livros, e isso é um aviso importante, considerando que vou fazer comentários sobre livros que não lí. Alguém pereguntará como posso fazer comentários sobre livros que não li, mas explico: não é sobre os livros, mas sobre os títulos. Foram os títulos que me chamaram a atenção e, ou muito me engano, ou há qualquer coisa neles que não bate, não encaixa, não "clica."



O título do primeiro é (em Inglês): Evolution, a Theory in Crisis: New Developments in Science are Changing Orthodox Darwinism. Este título chamou-me imediatamente a atenção, não sei se chamou a atenção de outros e, se chamou, não sei se alguém já fez algum comentário sobre isso.



Deixe-me ir com cuidado. Em primeiro lugar não estou aqui a fazer qualquer crítica ao Dr. Michael Denton enquanto cientista. Eu não sou um cientista de profissão e não tenho educação ou treino formal em qualquer dos ramos da ciência. A minha apreciação, portanto, é apenas a de um leigo que tem interesse nestas coisas. Consequentemente, parto do princípio de que o Dr. Michael Denton é um centista competente na sua área específica de actuação. Partir disso é, para mim, apenas confortável, pois não teria condições de avaliar o Dr. Denton pondo-me na qualidade de cientista.



Portanto, as minhas observações são de carácter muito geral e, como eu disse, referem-se apenas aos títulos dos seus livros, e o que digo a partir daí está sujeito à crítica e ao debate. Estou apenas a imaginar o que pode se esconder dentro desta "armadura das palavras" nos títulos dos dois livros.



A primeira pergunta que me faço acerca do título do primeiro livro é, por que diz o Dr. Denton que a Evolução é uma teoria em crise? Numa entrevista publicada na Internet, ao ser perguntado por que havia escrito "Evolução, uma Teoria em Crise," o Dr. Denton respondeu que, "muito simplesmente", porque ele acha que o presente quadro do Darwinismo é insuficiente e não fornece uma explicação abrangente ("comprehensive explanation") de como o padrão ("pattern") da vida emergiu sobre a terra.



Isto me parece uma explicação curiosa. Penso que o facto de qualquer teoria científica actual não ser suficiente e não dar uma "explicação abrangente" de qualquer facto da natureza, não é uma razão válida para que esteja - ou seja tomada como estando - em crise. Isso acontece em muitas outras áreas do esforço científico, isto é, existem nelas teorias que não são suficientes para explicações abrangentes. E algumas dessas teorias não apenas não explicam abrangentemente mas estão, ainda, cheias de falhas que os próprios cientistas reconhecem. Mesmo assim eles as admitem como plausíveis, talvez porque, num dado momento, não exista uma teoria melhor.



Na verdade, podemos dizer que qualquer teoria científica está "em crise", no sentido de que nenhuma delas pode ser tomada como a palavra final, como a verdade última, imutável e absoluta em seja lá o que for. Num sentido muito próprio, todas as teorias científicas estão a andar na corda bamba e correm o risco de lá despencar a qualquer hora, ou por alterações profundas e amplas nelas, ou por puro e simples descartamento, quando são substituídas por outras.



Muitas teorias científicas do passado tem sido modificadas, melhoradas, aperfeiçoadas, re-afirmadas, re-propostas, re-formadas, e umas tantas outras foram simplesmente deitadas fora e passaram a ser história da ciência

Uma teoria científica é mantida e defendida enquanto explica, ou é passível de vir a explicar, um fenómeno ou uma série deles, mas não se exige de uma teoria, qualquer que seja, que explique a totalidade dos factos referentes a um aspecto qualquer do mundo natural. A Teoria da Evolução, penso eu, é uma teoria científica e, como tal, está sujeita aos mesmos stresses de qualquer outra teoria científica. Mesmo na Física, considerada por muitos, e com razão, a raínha das ciências, a incerteza existe sempre, as teorias em Física nem sempre são suficientes para explicar tudo, mas a pesquisa prossegue, a investigação prossegue, os aperfeiçoamentos vão sendo feitos, e não me recordo de nenhum Físico a andar para aí a dizer que a Teoria do Bang Bang, por exemplo, está em crise, ou que está em crise qualquer das várias teorias na Física das Partículas. (Na verdade, o Big Bang talvez nem seja uma teoria mas apenas um modelo, e os modelos, como diz o Prof. Stephen Jay Gould em um dos seus livros, não é tido por verdadeiro nem falso, mas apenas por útil ou inútil.)



Mas há um problema aqui que precisa ser esclarecido: é a expressão "comprehensive explanation", que o Dr. Denton usou na resposta que deu e que traduzi como "explicação abrangente." O problema é que o termo "comprehensive/abrangente" tanto pode significar "inclusivo, de longo alcance, amplo, extensivo", como pode significar "todo-inclusivo, exaustivo." Se o Dr. Denton, ao empregar "comprehensive" na sua resposta, estava a significar que a Teoria da Evolução não tem um "espectro" suficientemente amplo para explicar tudo, que nas suas possibilidades explicativas ela tem limitações, concordo com ele. É assim que acontece com todas as teorias científicas, como ja disse. E se, por "comprehensive" o Dr. Denton significa que a teoria da evolução não é "toda-inclusiva ou exaustiva" também concordo com ele. É dizer a mesma coisa doutra maneira. O problema é que, em qualquer dos casos, dito de uma maneira ou de outra, não há razão suficiente, penso eu, para se considerar a teoria da evolução "em crise".



Não importando quão boa uma teoria científica seja, ela pode explicar um grande número de factos ou classes de factos, mas não pode explicar todos os factos, ou todas as classes de factos, relativos a um dado fenómeno da realidade. Ou seja, há sempre alguma coisa que não é satisfatoriamente explicada, fica sempre alguma pergunta no ar, alguma coisa coisa sempre escapa ao "espectro explicativo" da teoria. Portanto, acho que é razoável supor que nenhuma teoria explica a totalidade absoluta dos factos, e isso pela simples razão de que muitas vezes nem se conhece a totalidade destes factos, ou seja, os factos, em termos quantitativos, são indeterminados. Não creio que seja possível alguém afirmar que exista uma quantidade determinada de factos, exaustivamente conhecida, sobre um fenómeno qualquer, e que uma dada teoria explica um número determinado deles, ficando o resto por explicar.



Portanto, dizer que a teoria da evolução não dá uma explicação suficientemente ampla, ou uma explicação exaustiva dos factos da biologia é apenas afirmar o óbvio. Resta ainda que, "abrangente", no sentido de inclusividade, longura de alcance, amplitude etc., é uma idéia subjectiva e, penso, não pode ser rigorosamente mensurada , mas apenas dialecticamente defendida. Para o Dr. Denton a teoria da evolução pode não ser suficientemente "inclusiva", e para outro cientista pode, se não toda-inclusiva será, pelo menos, suficientemente inclusiva. De qualquer das maneiras, dizer que a teoria da evolução não explica tudo, ou que ela não explica o suficiente, não é razão para dizer que está em crise. Que não explica tudo, sabemos. Que não explica o suficiente, depende da noção de "suficiente" que cada um tem.



Há outro pormenor aparentemente insignificante que me chamou a atenção no título. É que o Dr. Denton diz que a Teoria da Evolução não é suficiente para explicar a emergência da vida sobre a terra. Na verdade ele diz "como o padrão da vida emergiu sobre a terra." Não sei se na palavra "padrão" ("pattern") ele tem alguma carta escondida, e isto fica, por enquanto, por saber. Mas considerando que não haja alguma surpresa, eu me atreveria a dizer que, explicar como a vida surgiu na terra, ou em qualquer outra parte, não é, ou não parece que seja, tarefa da Teoria Evolucionista. Parece haver aqui uma lacuna qualquer no seu pensar. A impressão que tenho é que, o papel da Teoria Evolucionista não é explicar como a vida surgiu mas apenas como ela se desenvolveu. O próprio termo "evolução" parece indicar isso. A questão da origem última da vida não parece ser questão com que a teoria da evolução tenha que lidar. Enquanto teoria que tenta exlicar como o "padrão da vida" evoluiu, a teoria da evolução pode ser considerada uma teoria científica, mas quando ela passa, se passa, a tratar da questões das origens últimas da vida, então já não é uma teoria científica mas simples especulação.

Há outra impressão que resulta do título do livro do Dr. Denton e das reacções de alguns Criacionistas. A impressão é a de que ele não foi suficientemente claro sobre as suas posições. Alguns Criacionistas deram saltos de alegria com a publicação do livro. Um exemplo é o pessoal do "Answers in Genesis", uma revista Criacionista extremada que leva as narrativas do Gênesis ao pé e à mão da letra, que deram entusiásticos vivas ao livro. Não sei o que realmente houve para que reagissem assim, mas fica a suspeita de que o Dr. Denton disse alguma coisa que os deixou muito contentes. Talvez quem leu o livro me possa dizer algo, ou eu mesmo descobrirei quando e se chegar a lê-lo.

O título do livro também nos deixa a impressão de que o Dr. Denton está a fazer confusão entre o facto e o modus da evolução, ou entre facto e mecanismo. Custa-me pensar que seja assim, porque esse tipo de confusão acontece frequentemente entre leigos em ciências, como é o meu caso, mas não é facilmente que se julga acontecer entre cientistas. E isto me fez lembrar do que acontece entre teólogos, quando discutem a doutrina da Criação. Eles dizem que Deus criou o universo e tudo o que ele contém e, geralmente, não fornecem pormenores disso. Até aí nada demais, porque estão a afirmar aquilo que julgam ser facto e, na verdade, não é tão absurdo quanto possa parecer. Mas quando chegam à criação do homem, as coisas se complicam, porque eles não apenas querem que Deus tenha criado o homem, mas querem também saber como foi que isso aconteceu. E quando se baseiam no Gênesis para demonstrar suas teses, a teologia não pode permenecer coisa de gente séria. Será possível que cientistas, neste caso específico o Dr. Michael Denton, esteja a cometer o mesmo erro dos teólogos?

Sustento o que disse no princípio, que o Dr. Denton me merece o crédito de ser um cientista competente. Não tenho qualquer razão para dizer o contrário, e não apenas não tenho razões, como também não estou qualificado para o fazer. Mas não poderia acontecer que faltasse ao Dr. Denton a mente filosófica que pudesse capacitá-lo a ver as falhas de raciocínio do seu discurso?

Venha o que vier, com a "evolução em crise" do Dr. Denton ou sem ela, não resta dúvida, mesmo para um leigo como eu, que a Teoria da Evolução ainda é o melhor esquema explicativo para o fenómeno da vida sobre a terra. As explicações religiosas simplesmente não servem, e penso assim porque estou familiarizado com elas. Não me parece que, a julgar pela linguagem do título, o Dr. Denton tenha prestado um bom serviço à ciência e, aparentemente, abriu uma brecha por onde a sarabanda dos Criacionistas se meteu...de novo.

Na próxima mensagem farei conjecturas sobre o outro livro do Dr. Denton. Fica por agora esta, aberta à discussão, com a possibilidade de que, eventualmente, eu venha mudar totalmente a minha perspectiva acerca do Dr. Michael Denton.

Frank


segunda-feira, 14 de maio de 2007

What's in a Name?

King James I, so it seems, wanted his name to be associated with the most revered English translation of the Bible. However, the translators, we suppose, all of them members in good standing of the Church of England (did it exist at that time?) and faithful subjects of His Majesty, went a little bit further, deleted the name of one of the New Testament writers and stamped their beloved and pious King's name on Jacob's letter. "Jacob, a servant of God and of the Lord Jesus Christ" was the man. The Letter of James, as we know it, is in fact the Letter of Jacob. The name is there, in the Greek New Testament, for anyone to see. There seems to be no doubt about it. It is Iakoubos, another spelling for Iakoub, but Jacob, never James.

To make things look coherent, the translators also changed other occurrences of Iakoubos in other places of the NT. Examples are Matthew 4:21; 10:3; 15:5. Mark 10:35; 15:40. Luke 6:14; 20:10. However, in Matthew 1:2 we have Ikoub and it is maintained and translated as Jacob. The same happens in the Letter to the Romans 9:13 and to the Hebrews 11:9.

Sure, there is a tiny difference between Iakoubos and Iakoub, but both are Jacob. There is no reasonable explanation to translate one as Jacob and the other as James except, as we think, for the fact that the translators wanted to please His Highness James I. James sounds nice as an English name but awkward as a Jewish name.

The Portuguese translations, to give an example, followed the lead and called our man Tiago, or Thiago. Not so bad, we must admit. After all, Tiago or Thiago comes, some experts say, from the Spanish Santo Iago, hence Santiago, hence Tiago. Many Spanish people have Santo Iago as their surnames. I personally knew one, a catholic priest friend of mine, called Josemaria Asturbes de Alarcon y Santo Iago, a nice sounding name, by the way. No wonder, therefore, that Spanish translations have Santiago as the epistle of Jacob, and the Portuguese ones, Tiago. But even in this case, Jacó or Jacob would be the right thing to do..

It is interesting that no modern translations in Portuguese or English has ever attempted to restore Jacob's signature onto his document. Not even a radically different (but very good) one like The New World Translation of the Holy Scriptures did it. Jacob was simply erased and in his place James was enthroned. After all, James was a King, and Jacob was a mere slave of God and of the Lord Jesus Christ. Who cares about him?


This curious royal misappropriation of an author's copyrights tells us some important things, and please note that this an extrapolation of my main point. First, we must not trust translations as if they were inspired word of God. As any primary student of the Bible knows, the theories of inspiration do not extend to translations or copies but only to the original, the very first document. Only the original was inspired and nothing else. In many cases, as we also know, the very first original was not written but spoken, and this poses some thorny questions to start with.

In the second place, we must bear in mind that there are many fishy things going on out there in matters regarding translations and we had better watch out. The last two examples I stumbled upon were very interesting. The first example is The Living Bible and its rendering of 2 Timothy 3:16-17. It is a falsification of the original from beginning to end with the obvious intention of justifying and giving credence to a certain theory of inspiration prevalent among some Protestant quarters.

The second example is The New Living Translation and its rendering of James, I mean, Jacob 1:12-16. If this passage is a translation of Iakoubos in the original, then my name is Supilulilmas. I have a strong impression that the experts working on the NLT did a lot of tampering with the original and came up with that horrible thing. It worth seeing verse16 where the NLT says: "So don't be misled my dear brothers and sisters." This is in fact a timely warning to the readers of the NLT. Before I forget, James, I mean, Jacob, forgot to include the "dear sisters" in his stern warning and only mentioned his "dear brothers".The NLT translators apologise for his forgetfulness and set the recod straight. A heartfelt and humble "thank you" note from the dear sisters.

The above might be just a story, perhaps invented by some disgruntled subjects of His Majesty, on how the English name James sneaked into a letter by a Jewish guy called Jacob. If the story proves someday to be false and to have neither reason nor rhyme or neither rhyme nor reason, I will offer public recantation of my heretical opinions. And if any reader (I'm afraid they won't be many) have any information that can clarify such a momentous issue, I will be happy to hear it.

Before I finish, I found out just yesterday that in the German translations the name is Jacobus and in the Vulgate it is Iakobi. In French is Jacques, but that doesn't say much because in France when it is not Jacques it is Jean-Jacques.

My most sincere regards.
Frank Simmons

terça-feira, 8 de maio de 2007

Do título

Prezados amigos.

Esta é apenas uma mensagem inicial entre muitas outras que, espero, se sigam a esta. O título é uma versão curta, curtíssima, do título de um livro admirável que li em 1996. O título completo é Conjectures of a Guilty Bystander, do pensador Americano Thomas Merton. Da leitura do livro fui encorajado a escrever muita coisa que eu pensava reunir num livro com o título ligeiramente alterado: Conjectures of an Innocent Bystander. De facto, este material está produzido mas ainda receio procurar publicá-lo, por pensar que não esteja bom o suficiente. Portanto, foi o Thomas Merton quem me sugeriu o título deste blog.

Este blog será provavelmente bilíngue porque muita coisa que tenho escrita está em Inglês. Os que estão familiarizados com a língua Inglesa, portanto, estão convidados a participar. Todo feedback é bem vindo.

Provavelmente o material que tenciono apresentar aqui crescerá muito lentamente, pela razão de que não disponho ainda de tempo para manter a escrita a um ritmo constante e, certamente, não será tão acelerado quando eu gostaria que fosse.

Vamos a ver o que virá, até a próxima um forte e um forte abraço.

Frank